Uma breve nota sobre... "Aquarius" (2016)
Já vi centenas de filmes na minha vida, e certamente tenho outros milhares a ver. Digo isso pois me choca profundamente o sentimento que tive ao sair da sala de "Aquarius" agora há pouco. Uma inédita falta de ar, entorpecimento completo. O que vivi assistindo aos grandes mestres do cinema foi a avassaladora admiração pela técnica, desenvoltura artística e sensibilidade. No entanto sensibilidade é pouco para definir o que encontrei em "Aquarius". Racionalmente tento entender que, de fato, é muito significativo ver-se completamente representado numa obra de arte produzida no seu país, a qual espelha a sua cultura. O poder desse filme é a sua sensibilidade ao abordar situações obviamente atualíssimas. Mas até aí, temos vários exemplos na história que conseguiram o mesmo. A grande contribuição de "Aquarius" foi fazer isso de forma humana, neutra, sem impor de maneira nenhuma qualquer pensamento. É a perfeição da neutralidade, entretanto é também a unanimidade. Certamente o episódio do protesto em Cannes já fez com que pessoas adquirissem antipatia pelo filme, inclusive militando contra o mesmo sem o ter visto. Nossos tempos exaltados. Se esses quiserem exercer a sua habilidade de tolerância e assistirem ao filme, tenho certeza que se sentirão representados. Não é um filme partidário, "petralha", "coxinha". É uma produção artística que utilizou sim verba pública de programas de fomento à arte para nos entregar algo sublime, transformador e cativante. Por tratar imparcialmente de reais problemas sociais, torna-se um filme perigosíssimo e claramente temido e sabotado. Há quem prefira tudo, menos ter isto no atual momento brasileiro: um unificador de vontades. "Aquarius" não dá brecha ao laissez faire, laissez aller, laissez passer...
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