Meia-Noite em Paris



      Pode-se dizer sem qualquer exagero que Meia-Noite em Paris (2011), de Woody Allen, foi o filme mais popular do ano - mais de 1 milhão de brasileiros foram ver no cinema essa que é a mais nova obra de um querido por quase todos diretor contemporâneo. O público ao redor do globo não foi diferente: o filme arrecadou cerca de 56 milhões de dólares apenas nos EUA. Indubitavelmente, estamos diante de um fenômeno cinematográfico. No entanto, o filme se mostrou frágil, pretencioso e até mesmo tolo. Meu grande esforço nessa resenha será dizer os motivos pelos quais Meia-Noite em Paris deve ser considerado um filme fraco.
        As relações humanas e como levamos a vida é sem dúvidas um dos mais explorados temas no cinema. O gênero de filmes chamado comédia romântica  aborda essa temática constantemente. Um ou outro inova na narração, porém é triste notar que grande parte dessas produções promove aparentemente uma reciclagem de roteiros, modificando apenas o nome dos personagens. É um equívoco abordar a vida de forma tão pouco cuidadosa, descendo ao nível da pieguice. Um interessante  filmes que trata muito bem sobre a vida e as relações humanas é (500) Dias com Ela (2009), um notável integrante do grupo das comédias românticas que simplesmente não consegue em nenhum momento recorrer a situações clichês e a uma narração "água com açúcar".
       Meia-Noite em Paris também aborda a temática da vida, porém se sai pior que o filme citado e melhor que a maior parte das películas de comédia romântica. Woody Allen lança um filme por ano, e nessa última produção vemos claramente que a pressa foi muito inimiga da perfeição. Uma boa história vê a ruina do seu potencial ao ser tratada de forma tão boba, diria até irritantemente alienada. A começar pelo próprio gênero do filme: temos a velha crise de casal como suporte para desenrolar a trama. Inez (Rachel McAdams) está noiva de Gil (Owen Wilson) e ambos viajam junto com os pais da noiva para Paris. Ela é uma mulher fútil e bastante admiradora de bens materiais, uma figura escancaradamente estereotipada. Já o noivo apresenta características mais sensíveis, como o amor pela literatura e pelo aprazível cenário da cidade luz.
          Desde muito cedo o filme já mostra que os protagonistas principais tenderão a se separar conforme proliferam as discordâncias. Gil adora programas simples como caminhar pelas ruas e sentir a atmosfera local, enquanto Inez prefere sofisticações tais como lojas caras ou passeios em museus na companhia de um amigo de família esnobe e pseudo-erudito. O casal começa a se separar quando Gil vê em seus passeios noturnos pela iluminada e preciosa Paris uma oportunidade de inspiração para a escrita de seu romance, um dos principais motivos da viagem. Nesses passeios, sua mente imaginativa e devaneadora acaba por levá-lo a explorar outros tempos da capital francesa. O homem conhece pessoalmente figurões como Salvador Dalí, Luis Buñuel, Picasso, Hemingway,  F. Scott Fitzgerald e uma série de outros notáveis artistas. Nesse cenário, Gil tenta aprimorar a escrita do seu romance, buscando ajuda de seus ídolos.
         O grande problema da película é a forma tola de contar a história e a irritante ambição em tocar o público de uma forma não tão poética quanto a história merecia. A linearidade da trama em momento algum é quebrada, e talvez por isso o público não se envolva profundamente com os dramas vividos por Gil. É conveniente salientar que Owen Wilson se sai razoável em seu papel, porém a carga dramática de seus devaneios não atinge um máximo justamente por conta de uma direção fincada em princípios desgastados de como filmar, dando ao filme uma péssima semelhança com fracas comédias românticas contemporâneas.
          Uma enorme parcela do público, ao ser indagada sobre o filme, revela que a exploração da imagem de uma Paris maravilhosa foi sublimemente feita pelo diretor. Possivelmente para quem tenha se aventurado pela produção francesa Um Lugar na Plateia (2006) tal afirmativa representa um exagero. Não são sucessivas imagens dos principais cartões-postais de Paris aliadas a uma música genuínamente francesa capazes de recriar a atmosfera poética dessa Meca das artes. Tão menos meia dúzia de cenas exteriores gravadas em ruas.
          O saldo final é um filme que não pode ser chamado de ruim, afinal é seguramente dirigido e montado. Mas nem de longe é um filme bom, pois Woody Allen permaneceu no lugar-comum, não inovou sequer uma vez. Uma covardia contra uma história que certamente poderia render melhores frutos. Talvez lançar um filme por ano não torne as coisas melhores, a não ser que o aspecto financeiro seja o verdadeiro objetivo das produções.

NOTA: 6,0.




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