A Pele que Habito




     Pedro Almodóvar é um cineasta mundialmente famoso, se tornou um dos grandes do nosso tempo e fornece ao seu público histórias impecavelmente trabalhadas. É verdade também que seu nome quase sempre vem acompanhado pela palavra: polêmica. Ao contrário de Lars von Trier, figura criticada pela sua opinião pessimista, Pedro Almodóvar vê em suas discussões sobre a sexualidade um combustível para críticas. Pessoas mais civilizadas, caso aqui do escritor e do leitor, naturalmente não vão criticar um diretor homossexual de por nas telas personagens homossexuais. Também nunca condenaremos um de seus filmes por abordarem verdadeiros tabus sociais e sexuais, como por exemplo o travestismo. Aliás esse tema em especial foi abordado em sua obra Tudo Sobre minha Mãe (1999), ganhador de 47 prêmios internacionais, dentre eles o Oscar de melhor filme estrangeiro (em 2000) e a láurea de melhor diretor no Festival de Cannes (1999).
       Em A Pele que Habito (2011) o diretor espanhol explorou uma trilha pela qual nunca antes percorrera. Ele concebeu uma história em tom misterioso e chocante envolvendo um cirurgião plástico (Antonio Banderas), uma paciente (Elena Anaya) e uma governanta (Marisa Paredes). Com o início da projeção nos é mostrada a vida cotidiana desses três personagens, e essa introdução até pode ser considerada um pouco arrastada. Mas com o surgimento de um tigre, a história ganha movimento e deslancha. O tom de suspense da minha última frase é propositalmente para imitar a atmosfera da trama. 
       Sempre estão convivendo em nossas mentes noções dos personagens e dúvidas sobre seus destinos e suas origens, e Almodóvar nos fornece as respostas por meio de um flashback. Essa parte do filme é a reveladora, a ousada e a chocante. A trinca principal já antes mencionada ganha nessa parte uma cuidadosa explanação, até chegarmos na revelação do segredo. Se eu o compartilhar aqui, a experiência cinematográfica perderá um pouco de sua magia. Portanto, só repetirei que o segredo extremamente dramático, capaz de fazer alguns repudiarem o filme (como presenciei no final de uma sessão num cinema comercial, com público não habituado a histórias não-hollywoodianas), faz necessária uma nova parte para o filme, que será uma retomada para os tempos atuais.
       Fica evidente a extraordinária montagem do diretor. Notável também é a sua capacidade artística como diretor. Porém o auge de suas obras é um roteiro invejável, sem um buraco sequer (nesse filme só o que não é explicado é um certo vestido...). A habilidade de escrita de Almodóvar já rendeu inúmeros prêmios, e é incontestável que ele pode ser considerado o maior roteirista da atualidade. Ora, não é muito elogio para o chamado de "maior cineasta espanhol desde Luis Buñuel".
      O motivo de aplausos em A Pele que Habito é o casamento entre técnica primorosa e boa história. Alguns criticam o filme quanto a sua dureza, mas esses não devem ter prestado atenção às cenas com um humor irônico e sutil típico de outras obras do diretor. Recentemente o filme foi indicado ao prêmio de melhor filme de língua estrangeira dos Globos de Ouro 2012. Ainda preciso ver os filmes concorrentes para dar qualquer sugestão de favorito, mas a ousadia de Almodóvar nessa película provavelmente não o fará vencedor, visto que em Cannes a Palma de Ouro não foi conferida a ele. Rubens Ewald Filho, o pai da crítica de cinema no Brasil, afirmou que o festival francês mostrou-se chocado com a trama ao não premiá-la.
       A Pele que Habito é com certeza mais um filme obrigatório para a plateia contemporânea, assim como diversos outros do cineasta espanhol. Contudo o pré-requisito para um bom filme é despir-se de qualquer preconceito, encarando de mente aberta a experiência cinematográfica. Dessa forma, duvido que o resultado final não seja uma salva de palmas.

NOTA: 8,2.


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