Lars von Trier: Manderlay
Dando sequência aos seus trabalhos após Dogville, Lars von Trier anunciou que o filme na verdade era parte de uma trilogia denominada EUA - Terra de Oportunidades, na qual o diretor concentra seus esforços na concepção de filmes mais dramáticos sobre a natureza humana através de exemplos inseridos na sociedade estadunidense. Em Dogville o diretor abordou como o homem é extremamente arrogante, mesmo que pareça o contrário em muitos momentos. A mão que acalanta é a mão que bate.
No segundo filme da trilogia até hoje inacabada, Manderlay (2005), o dinamarquês explora particularmente o atraso de pensamento em uma sociedade dita desenvolvida. Para isso, somos transportados para a fazenda de uma senhora cujos empregados na verdade são escravos. Em plenos anos 1930. As regras da senhora regem a vida dos lavradores, e a personagem vivida em Dogville por Nicole Kidman e agora em Manderlay por Bryce Dallas Howard se espanta com o atraso que presencia com os próprios olhos.
Para quem viu Dogville e no final conheceu quem realmente essa mulher é, sabe que sua companhia não aceitaria novamente perdê-la. Mas a personagem os convence que deveriam acabar imediatamente com o trabalho compulsório ali presente. A mulher então planeja incentivar os escravos a fazerem um motim contra a velha senhora. "Só limpa lustres quem os tem". É a frase síntese do pensamento de Bryce Howard.
Aliás, a troca de atrizes no papel principal não afetou muito a personagem - mesmo que o público se identifique mais com Nicole Kidman. Mas Bryce Dallas Howard também honra o papel, atuando de forma convincente e calorosa.
O filme apresenta as mesmas características técnicas de Dogville, embora eu enxergue um certo aprimoramento em quesitos como imagens das câmeras e ritmo de narração. Mais elementos cênicos são utilizados nesse filme, o que particularmente me agradou, visto que o mínimo utilizado em Dogville por vezes me causou certa estranheza.
A dupla de filmes que faz parte de uma trilogia têm importantíssimo papel no cinema contemporâneo. Como já discutido em outros posts, esses são um dos únicos exemplos desse estilo chamado por uns de "teatro filmado". É muito interessante ver que a ausência de cenários e um mínimo de objetos em cena influenciam no destaque à atuação. E atores dirigidos por alguém como Lars von Trier costumam se destacar bastante, arrebatando inclusive prêmios em festivais, como foi o caso de Kirsten Dunst no filme Melancolia (2011), ganhadora do prêmio de melhor atriz do Festival de Cannes 2011.
Quem sabe a obra prima de Lars von Trier esteja vindo sob a forma do terceiro filme dessa trilogia, entitulado Washington?
NOTA: 7,25.
NOTA: 7,25.
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