Os Irmãos Lobo (2015)




          Avesso ao modus operandi do planeta, o qual rotaciona mediante as forças do capital e do trabalho, um pai adota como forma de protesto não ser uma engrenagem dessa máquina corrompida. Ele valoriza o autoconhecimento, o conhecer a sua própria essência, e ignora feitos materiais ou financeiros, acúmulo de riqueza e todas as coisas que em geral alguma das sociedades ocidentais mais reconhece. Assim, junto de sua esposa, criou sete filhos com essa ideologia. 
          O sonho da sua mulher era dar aos filhos uma infância semelhante à dela própria: viver em uma terra afastada das grandes cidades, em pleno contato com a natureza, com gramados aonde as crianças pudessem brincar e florestas aonde pudessem construir casas nas árvores. O sonho do pai era mudar-se com a família para um dos países escandinavos, aonde acreditava que a sociedade tinha valores mais humanos do que financeiros. 
         No entanto, com o passar dos anos, não conseguiram fugir a sua realidade. A família, seguindo a regra da não convivência com a sociedade tida como degenerada, continuava a morar nada menos que num bairro desvalorizado de Nova York, coração de tudo o que os pais mais repudiavam. Permaneceram 14 anos encarcerados (literalmente) no apartamento por ordem do patriarca, com o mínimo possível de contato com o mundo exterior.
           Os filhos jamais podiam sair de casa sozinhos. O máximo de incursões deles à cidade em um ano nunca passou de 9 vezes. Houve anos de apenas uma visita ao exterior de suas moradas, e finalmente um ano que os filhos enfrentaram uma total distância de qualquer ambiente fora das quatro paredes.
          Os "irmãos lobo" encontraram nos filmes uma forma de encarar a realidade de suas vidas, e a seguir iniciaram uma intensa adoção de ficções para preencher a lacuna de suas vidas. Os filmes começaram a ser reinterpretados por eles próprios. Transcreviam a fala dos personagens, confeccionavam os figurinos e objetos de cena e encenavam o texto. Tudo foi documentado por vídeo. Ao longo desses 14 anos foi assim que viveram, e foram as películas as responsáveis por fazê-los ficar instigados pelo além das paredes da casa.
          O documentário conta um pouco dessa história familiar completamente atípica, marcada por reclusão, conflitos e questionamentos. E o papel do cinema como poder transformador na vida de sete jovens criados alheios à sociedade, fomentando neles o tão salutar ato de sonhar.



NOTA: 6,75 / 10


Filme assistido no Festival do Rio 2015

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